sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Minha homenagem à Paulo de Tarso Alvim

Baseado em texto da Academia Brasileira de Ciências
Paulo de Tarso Alvim
1919- 2011

Paulo de Tarso Alvim passou sua infância e adolescência em sua cidade natal, Ubá (MG), onde fez seus cursos primário e secundário no Colégio Brasileiro e no Ginásio Mineiro Raul Soares, respectivamente. Órfão de pai aos dois anos de idade, sua educação, assim como a de seus três irmãos maiores, ficou sob a responsabilidade de sua mãe, que para tanto exerceu por muitos anos a profissão de costureira.

Em 1937, prestou vestibular para o curso de agronomia na Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo aprovado em 3º lugar entre 130 candidatos. Formado Engenheiro Agrônomo em dezembro de 1940, foi convidado para ser Professor Assistente de Botânica na ESAV onde, com o apoio de Octávio de Almeida Drumond, ministrou em 1943 o primeiro curso de Fisiologia Vegetal oferecido no Brasil para estudantes de Agronomia.

Em 1945, por indicação da própria ESAV, foi agraciado com uma bolsa de estudos do "International Institute of Education" para fazer curso de pós-graduação na Universidade de Cornell (EUA), onde, em janeiro de 1948, obteve o título de PhD em Fisiologia Vegetal com tese sobre o tema "Studies on the mechanism of stomatal behavior".

Ao retornar, iniciou pesquisas sobre fsiologia de plantas cultivadas e sobre a ecologia dos cerrados. Demonstrando a estreita correlação entre esse tipo de vegetação e as características químicas do solo, contribuiu para as técnicas de manejo do solo que permitiram a expansão da agricultura na região dos campos cerrados.

Em 1949, por ocasião do 2º Congresso Sul-Americano de Botânica, em Tucumán, Argentina, coordenou o movimento que resultou na criação da Sociedade Botânica do Brasil, atualmente com mais de 2000 associados.


Seu pioneirismo no campo da Fisiologia Vegetal foi logo reconhecido, tendo resultado em convite formulado pelo Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas (IICA/OEA), o que o levou a trabalhar por 12 anos em diversos países da América Latina, principalmente na Costa Rica e no Peru.

Entre 1951 e 1955, foi pesquisador e professor da Escola de Pós-Graduação do IICA em Turrialba, Costa Rica, onde realizou pesquisas sobre fisiologia da produção do cacaueiro e do cafeeiro e orientou cinco teses de mestrado.

Suas pesquisas contribuíram significativamente para aumento da produtividade dos cafezais daquele país. Entre 1955 e 1962 atuou no IICA de Lima (Peru), onde colaborou com a Universidad Nacional Agrária "La Molina" no ensino de Fisiologia Vegetal e na implantação de sua escola de pós-graduação.

Nesse período, orientou cerca de trinta estudantes na redação de teses de graduação e/ou mestrado. Suas pesquisas com cultivos irrigados permitiram-lhe descobrir o fenômeno a que denominou "hidroperiodismo", relacionado com o mecanismo da floração do cafeeiro e de outras espécies tropicais, além de ter inventado o primeiro porômetro portátil para avaliar o grau de abertura dos estômatos em condições de campo, conhecido na literatura especializada como "Porômetro de Alvim".

Em 1963, colaborou com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) nos trabalhos de planejamento e implantação do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC). Foi o principal dirigente técnico da CEPLAC durante 25 anos (1963 a 1988), período em que a produção brasileira de cacau registrou o maior aumento de sua história, passando de uma média anual de 130 mil t/ano em 1961-1965 para 380 mil t/ano em 1983-1988. Na Amazônia, a produção que era de 2 a 3 mil t/ano, elevou-se para 50 a 60 mil t/ano. 


Aposentado da CEPLAC em 1989, foi até 1998 Presidente da Fundação Pau-Brasil (ONG), dedicada a atividades conservacionistas e a estudos sobre agricultura sustentável em regiões tropicais úmidas.

Como Professor Honorário da UFBA, orientou estudantes de mestrado nos laboratório de Fisiologia Vegetal do CEPEC. Publicou cerca de duas centenas de trabalhos técnico-científicos (em revistas, capítulos de livros, anais de conferências), cinco livros (como editor e co-autor), e pronunciou centenas de conferências em Congressos nacionais e internacionais.


Casado com Simone Maria Cerqueira Alvim, é pai de seis filhos, dos quais merecem destaque Fátima Cerqueira Alvim, minha querida prima e colega na UESC, e meu outro primo Alexandre Alvim, tão próximo quanto um irmão. Era tio de Ronald Alvim, meu pai, falecido em 1993, e também ex-ceplaqueno.

Meu tio-avô Paulo foi a principal inspiração na minha carreira acadêmica. Foi minha referência e amparo quando precisei de conselhos, em especial depois da perda de meu pai.

Qualquer palavra nesse momento será insuficiente para descrever o sentimento de vazio deixado, apenas compensado por suas enormes contribuições à ciência, que continuam vivas e eternizando seu trabalho.

Homem de honestidade inquestionável, esperamos que seus ensinamentos e ideais possam de alguma maneira continuar inspirando  nossos caminhos diante dos enormes desafios que temos pela frente.

Ricardo Alvim
18 de fevereiro de 2011

Um comentário:

  1. Amigo e parceiro, Paulo foi uma das pessoas mais diferentes que conheci. Destacado pela amizade, inteligência, seriedade, amor a ciência e, sobretudo, pela humildade, deixou exemplos para todos nós.

    Eduardo Athayde

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